Brisas de mudanças
Dinheiro na cueca;
mensalão; Mensalão do DEM; oração da propina, entre outros (muitos outros). O
Brasil, de certa forma, tem se acostumado a ver rotineiramente escândalos e mais
escândalos envolvendo a classe política. E, como se já não bastasse assistir o
patrimônio público ser constantemente dilapidado, assistimos também os mesmos
políticos, em que votamos para que representem nossos interesses, se concedendo
aumentos salariais, indenizatórios, de verba, etc, etc, etc., dignos da Coroa
Inglesa. Toda essa mordomia bate frontalmente com a qualidade de prestação dos
serviços e direitos sociais que, na verdade, não passam de OBRIGAÇÃO do Estado.
Não (nunca, jamais) de “bondade” da classe política.
O povo brasileiro,
acostumado com palavras como “Corrupção” e “Impunidade”, muitas vezes se
limitava a (na hora da raiva, nunca nas eleições) apontar a mãe dos políticos
nas esquinas da noite. Sujeitos como Sarney (que é praticamente dono do Estado
do Maranhão); Collor (sem comentários); Renan Calheiros, Paulo Maluf, etc.,
sempre metidos em algum problema com a Justiça, mas que, nas eleições
seguintes, voltam ao poder “carregados nos braços do povo”. Rindo mais que tudo
no mundo. Sem esperar nunca uma reação da Justiça. Até com certa dose de razão,
se levarmos em conta nosso histórico nesta área.
Dizer que todos os
políticos são desonestos é tão errado quanto dizer que todos são honestos.
Assim como em qualquer lugar, há pessoas honestas e pessoas desonestas. A
desonestidade, infelizmente, é uma das várias imperfeições que são coladas ao
ser humano. Portanto, onde houver ser humano, haverá desonestidade em maior ou
menor grau. No entanto, a diferença está em como uma nação decide enfrentar e
lidar com essa imperfeição humana. Muito se fala que “Corrupção só existe no
Brasil”, mas ela é algo presente em absolutamente todos os países do mundo. O
que nos destaca dos mais desenvolvidos é que temos um sistema que, não somente
deixa de punir o desonesto, como também o premia. É o famoso “jeitinho
brasileiro”. Deste modo, ao furar uma fila, receber troco a mais e não
devolver, ver algo caindo do bolso de alguém e não devolver, pagar o velho
conhecido “toco” do guarda para não ser multado, etc., estamos reforçando,
mesmo sem querer (ou querendo) um sistema corrupto.
A grande mídia também tem
seu papel na atual situação. De vez que tem uma performance e abordagem
totalmente voltada para a lógica do mercado. Visando não somente o lucro bruto,
mas principalmente a manutenção de um contexto de opressão, desigualdade
socioeconômica e exploração. Busca formar uma massa igual e homogênea, ditando
os valores da sociedade, seus costumes, ideias e pensamentos (ou a falta
deles), gostos, comportamentos, sentimentos, etc. Enfim, reforça preconceitos e
estereótipos baseados única e exclusivamente nos seus interesses, nunca da
população.
Percebendo os serviços
sociais (saúde, educação, infraestrutura, saneamento básico, dentre outros)
cada vez mais sucateados, os salários parlamentares completamente
desproporcionais à realidade nacional (em dezembro de 2010 foi aprovado aumento
de 62% para deputados e senadores, e 140% para a Presidência e os Ministros), cansados
do cenário descrito acima e sem ver mudanças sociais significativas, um grupo
de brasileiros resolveu unir a vontade de mudanças à tecnologia. Através do
Facebook, juntaram-se e resolveram fazer a diferença.
Através de diversas
ferramentas de interação virtual como o Facebook, Orkut, e-mails e
abaixo-assinados, e com o apoio de diversas instituições que lutam contra a
corrupção, tais como OAB, CNBB, foram organizadas marchas simultâneas em todo o
Brasil no dia 7 de setembro de 2011 pedindo, entre outras coisas, o fim da
corrupção, a declaração de constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa (Lei
Complementar 135/2010) e a revogação do aumento citado acima. O movimento tinha
como princípios o Apartidarismo (proibição expressa da presença de partidos e
políticos, apesar do respeito às posições políticas individuais), Pacifismo,
Popular e Democrático. É um movimento do povo para o povo, em defesa dos
interesses genuinamente populares.
As passeatas têm se
repetido, geralmente nas datas nacionais significativas como 15 de novembro, 21
de abril, etc., e com adesão de cada vez mais pessoas. Apesar de os grupos
terem se diversificado (surgiram OPECC – Organização Pernambucana Contra a
Corrupção –; NasRuas.PE; Anonymous, etc.), a idéia principal do movimento
permanece uma: Mudar um sistema corrupto que privilegia alguns poucos poderosos
enquanto a população continua a passar necessidades de todos os tipos e
tamanhos. Apesar de recentes, esses movimentos vêm conquistando diversas
vitórias neste ano de 2012. Por exemplo, a declaração de constitucionalidade da
Lei da Ficha Limpa pelo Supremo Tribunal Federal (STF); Em Recife, o grupo OPECC
organizou e conseguiu ver aprovada a Lei Ficha Limpa Recife, que aplica os
critérios aplicados na Lei da Ficha Limpa para os cargos em comissão
municipais.
As bandeiras atualmente
acampadas são as que pedem a revogação do aumento concedido ilegalmente de 62%
aos salários dos vereadores do Recife; a votação da Proposta de Emenda
Complementar (PEC) que acaba com o voto secreto no Legislativo (Municipal,
Estadual e Federal); 10% do PIB para a
educação, dentre outros.
Esse tipo de movimento
social mostra que os brasileiros, ainda que timidamente, tem mostrado uma
mudança na forma de ver e se posicionar diante dos abusos de seus
representantes. Estamos saindo da passividade de reclamar em frente à TV, para
irmos às ruas e lutar por nossos interesses cobrando de quem deve, por
obrigação e não favor, fazê-lo. Mas não faz.
Julius Cavalcanti
Psicólogo
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