Pequena reflexão...



Após ter acompanhado durante toda a semana a constante e intensa atenção de toda a imprensa ao julgamento do caso Nardoni, vi neste domingo pelo jornal o desfecho do mesmo. Chamou-me a atenção a disposição de toda aquela gente que se aglutinava (se é que posso usar esta palavra) em frente ao Fórum onde se dava o julgamento. Vi pessoas que vinham de longe, passando dias e dias ali, chegando cedo, perdendo trabalho, etc., enfim, todos unidos ali, clamando num clamor quase unisono por Justiça. E quando finalmente sai a sentença condenatória dos réus, festa de quem está aqui fora! Festa! Festa digna de comemoração de Campeonato Brasileiro! Achei interessante o comentário de uma pessoa durante a reportagem (não me lembro o nome) que questionava o que se estava comemorando. O saldo daquele "show" era: uma menina morta, duas pessoas que passarão os próximos 30 anos presas cada, uma mãe que além do sofrimento de perder uma filha em tão terrível situação, teve de ver o assassino desta filha. O que há para comemorar?
Não pretendo em absoluto menorizar o grau deste crime que tomou proporções nacionais e até internacionais! Foi sim um crime brutal, entre tantos outros que somos obrigados a conviver cotidianamente mas que não recebem a devida atenção da mídia, que infelizmente apenas se "revolta" quando a vítima é também da classe média para cima. O julgamento teve, ao meu ver, o desfecho que deveria e que todos já esperavam.
Não é, no entanto, sobre especificamente o julgamento, a parcialidade da imprensa que só se move quando lhe interessa, etc que me proponho a refletir.
Questionei-me enquanto assistia à reportagem (confesso que um tanto decepcionado) se não estaríamos em situação muito melhor se nosso povo, assim como fizeram a exigência por justiça unidos, vindo de longe, mesmo tendo que chegar muito cedo, alguns até faltar o trabalho, entre outros exemplos, fizesse o mesmo clamor, a mesma exigência quando o assunto fosse outro. Quando no lugar dos Nardoni, falassemos de escolas sem condições de trabalho para professores e alunos, um ensino fundamental, básico, médio e, por consequência, superior de qualidade, infra-estrutura escolar e, no lugar de criarmos reprodutores de palavras, criássemos nas escolas cidadãos (ãs) e pensadores de fato; falassemos e exigissemos hospitais em condições de uso, equipamentos de qualidade para uma saúde pública digna; uma estrutura social que não apenas "aprisiona" o pobre em sua pobreza, o silencia e aliena com assistencialismos vazios; Se no lugar de passar a semana falando de Nardoni ou (o imbecilizante) BBB, falássemos e exigíssimos das autoridades que façam nada mais que seu trabalho, para que não tenhamos que pensar uma, duas, três vezes antes de sair e, mesmo assim, com medo de não voltar...entre outros tantos mais exemplos.

Comentem aí... dêem suas opiniões! Vamos trocar idéias... :)
Abraços a todos!

Julius Cavalcanti



Comentários

  1. Julinhus, tu escreveu praticamente o que eu havia pensado durante aquela semana. Como se faz da desgraça alheia um espetáculo.
    O queanto se supervaloriza um crime qd ocorre com pessoas de classe média alta acima. E os crimes bárbaros que ocorrem todos os dias com crianças anônimas que no máximo são notícia de 15 minutos em um Cardinot da vida?
    Esse é o nosso Brasil!

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  2. De pleno acordo Luciana! Mas a pergunta que não cala: a quem cabe mudar esse quadro? Políticos? Bem, em tese são eles que devem cuidar do nosso povo e brigar contra problemas como esse. Mas o que vemos de fato é o oposto (obviamente essa regra não é geral...): Eles lutam para manter e expandir os próprios privilégios (que não são poucos), e fingem que lutam por uma vida digna para nós, usando sempre o argumento (pode ver...) da democracia. Acredito que essa responsabilidade é nossa por dois motivos:
    1 - Nossos representantes são o reflexo da maneira como agimos, pensamos, enfim, o reflexo de seu povo: NÓS.
    2 - Se é o NOSSO Brasil, nossa casa, a quem cabe limpar a própria casa? :)
    Abraço!

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